segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

REPERCUSSÃO DA PRIMEIRA TEMPORADA

“Meu dia perfeito”
Espetáculo de teatro com o ator Marcos Marinho sob direção de Ricardo Martins

Quem não quer na vida, um dia perfeito? E para cada um, a perfeição deve tocar diferente... E por fim, a perfeição será para este um; a sua perfeição. E quem sabe esta já trará consigo uma contradição, isto é, sua imperfeição.
Assim é também a arte. Na busca do belo, encontrará o não belo. E o teatro não poderá ser diferente: na busca pela presença poderá trazer também consigo a não- presença.
É nesta busca da perfeição, do belo e da presença, que se encontram Marcos Marinho e Sr. M, num duplo revelador de si mesmo (e de nós mesmos). E como muito bem propõe e espera o diretor Ricardo Martins, o encontro consigo e com o outro, com aquilo que toca o coração.
Numa cena clara e desenhada, anima-se um palhaço humano a viver um domingo. Não um dia qualquer, mas um domingo perfeito. Quase parecido com os outros vividos, mas as imaginações, as desumanidades e as esperas são novas, vividas ali com cada um de nós, naquele suposto domingo.
A cada descoberta do novo, ou de novo, o ator vai revelando as possibilidades de criação e cuidado com cada ação e objeto de cena. A cada descoberta do novo, ou de novo, o personagem vai revelando as possibilidades da solidão e do desejo de um sujeito.
A voz em off, que de início parece narrar aquilo que talvez não entendêssemos do que se passa na cena, ou até mesmo para contextualizar o que Sr. M vive, ao final do espetáculo se transforma em chamada de telefone e depois em luz de janela e nos revela que a presença do outro está em nós, em quem precisa e quer o outro. É a palavra transformada em gesto, é ação transmutada em emoção.
A presença de uma mulher para a sobrevivência de Sr. M vai além do sexual. Quando ela nos é apresentada pela janela traz-nos a possibilidade da narrativa do teatro, onde se pode contracenar com bonecos. Mas depois, quando Sr. M a despe em cena, escancara para nós a necessidade de estar com o outro de um Homem qualquer. Ter com quem conversar, brigar, perguntar, e até mesmo sonhar ao sol, dá vida e intensidade a cada momento vivido por Sr. M.
E fica-nos uma pergunta: é a presença do outro que dá vida (presença, emoção etc) ao que se vive?
Enfim, é um espetáculo quase belo, quase perfeito, quase presente... pois sua humanidade faz com que ele ainda tenha mais para dar, para receber e mais para retornar a fazê-lo. E, sobretudo, mais para emocionar-se.
Estão todos convidados a olhar de longe Sr. M, para quem sabe olhar de mais perto a si mesmo. A cada dia um encontro com o inesperado...
Parabéns a todos que fizeram parte deste projeto e bom trabalho.
Por Gabriela Machado
Atriz e arteducadora

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